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Conclave

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 Nota: Para o filme, veja Conclave (filme).
O brasão da Santa Sé durante o período de Sede Vacante, com as chaves de ouro e prata do Céu, símbolo do Papado, cobertas pelo umbráculo.

Um conclave é uma reunião do Colégio de Cardeais convocada para eleger o bispo de Roma, também conhecido como Papa. Os católicos consideram o papa o sucessor apostólico de São Pedro e o chefe terreno da Igreja Católica.[1] É o método histórico mais antigo de eleger um chefe de Estado específico, no caso, para a Cidade do Vaticano, que permanece em uso até os dias atuais.

Preocupações com a interferência política levaram a reformas após o interregno de 1268–1271 e o decreto do Papa Gregório X durante o Segundo Concílio de Lyon, em 1274, que determinou que os cardeais eleitores deveriam ser trancados em seclusão cum clave (latim para "com chave") e não poderiam sair até que um novo papa fosse eleito.[2] Os conclaves agora são realizados na Capela Sistina do Palácio Apostólico na Cidade do Vaticano.[3]

Desde a Era Apostólica, o bispo de Roma, como outros bispos, era escolhido pelo consenso do clero e dos leigos da diocese.[4] Em 1059, o corpo de eleitores foi mais precisamente definido, quando o Colégio de Cardeais foi designado como o único corpo de eleitores.[5] Desde então, outros detalhes do processo foram desenvolvidos. Em 1970, o Papa Paulo VI limitou os eleitores a cardeais com menos de 80 anos, com a bula Ingravescentem aetatem. Os procedimentos atuais estabelecidos pelo Papa João Paulo II na Universi Dominici gregis[3] foram ligeiramente alterados em 2007 e 2013 pelo Papa Bento XVI.[6]

É necessário um voto de maioria qualificada de dois terços para eleger o novo papa.[7][8] Após a morte do Papa Francisco, o conclave elegeu Papa Leão XIV no segundo dia de votação, em 8 de maio de 2025, após o sinal da fumaça branca.[9]

O conclave de 1492 foi o primeiro a ser realizado na Capela Sistina.

O conclave é um ritual praticamente inalterado há oito séculos: foi o Papa Gregório X que usou pela primeira vez a palavra em 1274 e instituiu a base dos atuais conclaves, por meio da constituição apostólica Ubi periculum. Isto deveu-se à demorada sucessão do Papa Clemente IV. O Papa quis, então, prevenir que a escolha do Sumo Pontífice demorasse tanto tempo, obrigando que a reunião tivesse que ser conclusiva.

Ocorreu, com a morte do Papa Clemente IV sucedida em Viterbo, aos 29 de novembro de 1268, teve início a mais longa eleição papal da História da Igreja que só teve fim em 1º de setembro de 1271, ficando a Sede Vacante por 1006 dias até a escolha de um sucessor. É a eleição papal mais famosa, curiosa e que ficou conhecida como “O Conclave de Viterbo”. Dos 19 cardeais eleitores que iniciaram a reunião, dois morreram neste interregno.

O fato resultante desta demora, além da insegurança e intranquilidade de toda a Igreja, foi uma grande impaciência da população, que a certa altura tomou providências drásticas: trancou os cardeais eleitores dentro do Palácio Papal de Viterbo. Eram alimentados, evidentemente, mas tiveram as provisões reduzidas. Persistindo o impasse, entretanto, removeram, pelo menos parcialmente, a cobertura do local onde se reuniam deixando-os expostos aos rigores atmosféricos, e reduziram mais ainda as provisões.

As divisões internas e injunções políticas impediam que se formasse a maioria necessária para a escolha do sucessor de São Pedro. E depois deste longo período, a escolha recaiu sobre Teobaldo Visconti, que não era Cardeal, não participava da reunião, não era da Cúria Romana, e não era sequer sacerdote na ocasião: era um arquidiácono de Lieja, italiano, aplicado aos estudos e apóstolo zeloso, amigo de São Tomás de Aquino e de São Boaventura Bagnoregio, que vivera quase sempre no estrangeiro, e fora um dos organizadores do Primeiro Concílio de Lion. Teobaldo encontrava-se na Terra Santa quando foi eleito e passaram-se 4 meses até que chegasse a Viterbo, e depois a Roma, onde em 27 de março de 1272, depois de ser ordenado sacerdote e consagrado Bispo, foi entronizado com o nome de Gregório X.

O Papa Gregório X, então – fruto certamente da experiência ocorrida durante sua própria escolha -, estabeleceu as normas que regem até hoje, com algumas alterações pontuais ao longo dos séculos, mas sem mudá-las, em essência, as eleições papais, através da Constituição Apostólica Ubi Periculum, contendo disposições rigorosíssimas e procedimentos precisos para evitar ingerências externas e demasiada demora na escolha de um sucessor, e a administração da Igreja enquanto a Sé Vacante.

Na Constituição Apostólica Ubi Periculum aparece pela primeira vez a expressão “conclave” para referir-se, simultaneamente: ao local em que se reúnem os cardeais para a eleição do novo Papa, e à assembleia constituída com esta finalidade. O significado etimológico foi tomado das palavras latinas cum e clavis, um lugar reservado que se pode cerrar com chaves (“com chaves”).

Mais recentemente, o Papa São João Paulo II, através da Constituição Universi Dominici Gregis, de 22 de fevereiro de 1996, que dispôs sobre a vacância da Sé Apostólica e a eleição do Romano Pontífice, modernizou alguns aspectos do Conclave, mas mantendo, em essência e finalidade, as mesmas diretrizes da Constituição Ubi Periculum.

Um conclave deve começar entre 15 e 20 dias depois da renúncia ou morte do Papa. Este prazo foi fixado na época medieval, quando viajar até Roma a partir de qualquer parte do mundo cristão era tarefa para demorar semanas, e embora hoje em dia os Cardeais possam fazê-lo em questão de poucas horas, manteve-se este intervalo para que os Cardeais aproveitem esse tempo para fazer reuniões entre si nas quais se debate o estado da Igreja. O intervalo denomina-se novemdiales. Este período termina com a missa Pro Eligendo Romano Pontifice, com a presença de todos os Cardeais na Basílica de São Pedro na mesma manhã em que começa o conclave. Depois, os membros do Colégio Cardinalício dirigem-se à Capela Sistina, onde se fazem as votações.

O Cardeal Camerlengo certifica-se da morte do Papa Leão XIII.

Assim que ocorre o falecimento ou a renúncia de um Papa, a Sé Apostólica é considerada vacante (vaga) até à data da eleição do novo pontífice. Neste período, os assuntos da Igreja são entregues ao Cardeal Decano, ou Camerlengo, ao qual compete comprovar oficialmente a morte do Papa, fazendo-o na presença do Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, dos Prelados Clérigos e dos Secretário e Chanceler da Câmara Apostólica. O Camerlengo também redige a ata referente ao falecimento do Papa. Cumpre-lhe ainda a missão de convocar o Sagrado Colégio dos Cardeais, para que se reúnam em Conclave, o qual elegerá o novo Papa. O Camerlengo tem igualmente o encargo de recolher o selo e o anel pontifícios, encerrando os aposentos e dependências onde o pontífice defunto viveu e trabalhou, para que ninguém possa ter acesso aos mesmos. Se o Papa for sepultado na Basílica vaticana, cabe ao notário do capítulo da Basílica, ou ao cónego arquivista, a redação do documento oficial comprovativo.

Após a morte do Papa, e durante nove dias, os Cardeais celebram exéquias de sufrágio pela sua alma, de acordo com o que está estabelecido no documento Ordo Exsequiaram Romani Pontifici. O direito de eleger o Papa é exclusivo dos Cardeais, exceptuando-se aqueles que tenham cumprido os 80 anos antes do anúncio da Sé Apostólica vacante (o último Papa que não era Cardeal foi Urbano VI, em 1378; os últimos Papas que eram laicos à data da eleição datam do século X - João XII e Leão VIII). O número total de Cardeais eleitores não pode ser superior a 120. O Conclave realiza-se obrigatoriamente dentro do Estado do Vaticano (Capela Sistina), decorrendo as suas sessões no meio do maior secretismo e isolamento.

O Papa Paulo VI reformulou as regras de eleição do Papa, através do Motu Proprio Ingravescentem Aetatem, de 21 de novembro de 1970. A 1 de outubro de 1975, Paulo VI fez ainda publicar a Constituição Apostólica Romano Pontífice Eligendo, documento de 62 páginas, em que reafirma o disposto naquele Motu Proprio de 1970. Nesse documento, decretou três modalidades para a eleição do Papa: 'por aclamação' (um Cardeal propõe um nome e os outros Cardeais aceitam-no imediatamente); 'por compromisso', isto é, por aceitação do nome decidido por um grupo de Cardeais, e 'por votação'. Neste último caso, o nome do Cardeal mais votado tinha que somar dois terços dos votos. As normas de eleição do Pontífice Romano seriam revistas por João Paulo II, num documento de 34 páginas, a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, de 22 de fevereiro de 1996, a qual modifica certos pontos do disposto sobre a reunião plenária dos Cardeais para a eleição do Sumo Pontífice. No entanto, foi mantido o antigo princípio de que, durante o Conclave, o Espírito Santo guia as decisões de cada Cardeal. A Constituição Apostólica de João Paulo II introduziu uma grande novidade, ao restringir a eleição do Papa a uma só modalidade: 'por votação', ou seja, per scrutinium, post-scrutinium, que compreende três passos. O primeiro é a contagem dos votos, o segundo a sua verificação e o terceiro a sua destruição pelo fogo.

Todos os Cardeais eleitores estão obrigados a manter segredo absoluto sobretudo quanto respeite às sessões do Conclave. É-lhes vedado comunicar com o exterior por correio, via telefónica ou qualquer outro meio. A regra do sigilo é extensiva a todas as pessoas chamadas a prestar apoio técnico ou logístico às sessões do Conclave: alguém apanhado a utilizar um receptor ou transmissor, será imediatamente expulso e punido com sanções morais que podem chegar à gravidade da excomunhão, a qual não se aplica aos Cardeais eleitores, uma vez que estão obrigados, em consciência, a respeitar a regra do sigilo (graviter onerata ipsorum conscientia).

É normal que os conclaves durem entre 2 a 5 dias (entre os do século XX o mais rápido foi o de 1939 que elegeu Pio XII em dois dias e três votações e o mais demorado o de 1922 que elegeu Pio XI em cinco dias e catorze votações. Os conclaves mais antigos tanto poderiam arrastar-se longamente (como o da eleição do Papa Celestino V entre 1292 e 1294 que demorou 27 meses) ou ficar decididos em poucas horas, como o de 1503 de onde saiu eleito o Papa Júlio II.

Uma vez celebradas as exéquias do Pontífice falecido, prepara-se o Conclave, o qual poderá ter início no 15.º dia seguinte à morte do Papa, nunca ultrapassando o 20.º dia. Como já se disse, o Conclave tem lugar dentro do Vaticano. O local deve proporcionar um adequado isolamento dos Cardeais em relação ao exterior e também o seu alojamento em dependências próximas do Conclave. Há cerca de um século, passou a realizar-se na Capela Sistina, antes a capela primitiva dos Papas e 'coração' da Basílica de São Pedro e da própria Cidade de Vaticano.

O Conclave é antecedido de missa solene em que participam todos os Cardeais. Finda a liturgia, duas mesas são introduzidas na Capela Sistina, sendo colocadas na zona do altar-mor. A primeira é coberta com um pano de cor púrpura e sobre ela são colocados três grandes vasos de vidro transparente e uma bandeja de prata. A segunda é reservada aos três Cardeais escrutinadores.

Posto isto, os Cardeais eleitores dirigem-se entoando o hino Veni Creator Spiritus às suas cadeiras, marcadas com os seus nomes. Estando todos nos seus lugares, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, encarregue de dirigir todo o cerimonial e protocolo do Conclave, profere a frase latina Extra omnes. É a ordem para que todos os estranhos abandonem rapidamente a Capela Sistina. Os elementos do coro que participaram na missa, jornalistas, equipas de televisão, etc., saem então da Capela, cujos acessos são fechados ao exterior.

Início do Conclave

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O Decano, ou na sua falta o Cardeal-Bispo mais antigo, lê o juramento solene que obriga todos os Cardeais eleitores a aceitar as condições do eligendo, a rejeitar todas as influências externas e a manter secretas as suas deliberações. Feita esta leitura, o Decano procede à chamada dos eleitores. Cada Cardeal levanta-se e dirige-se para a mesa central, perante a qual, em voz alta, presta o seguinte juramento com a mão direita sobre as Escrituras. Abaixo, um exemplo, utilizando o juramento do cardeal Robert Francis Prevost, eleito Papa Leão XIV.

Et ego, N.(Robertus Franciscus),
Cardinális N.(Prevost),
spóndeo, vóveo ac iuro.
Sic me Deus ádiuvet
et hæc Sancta Dei Evangélia,
quæ manu mea tango.

"Eu, (Robert Francis),
Cardeal (Prevost),
prometo, me obrigo e juro.
Que Deus me ajude,
e também estes Santos Evangelhos,
que toco com a minha mão."

Findo o juramento por parte de todos os Cardeais Eleitores, o Decano chama a atenção dos Cardeais para a importância das suas decisões e a necessidade de guardarem bem vivo "o bem da Igreja". Conclui: "Que o Senhor vos abençoe a todos!"

Depois, por sorteio, efetua-se a eleição dos três Cardeais escrutinadores, os quais assumem a responsabilidade de verificar e contar os votos; passam a receber, por ordem de eleição, a designação de 1.º, 2.º e 3.º escrutinador. Pelo mesmo método são sorteados os três Cardeais infirmarii. Compete-lhes recolher os votos dos Cardeais que adoeceram, eventualmente, durante o Conclave. Ficam recolhidos em aposentos contíguos à Capela Sistina, na Casa de Santa Marta, dirigida por religiosas, onde também se alojam os restantes Cardeais eleitores. Por fim, sorteiam-se os três Cardeais revisores, encarregues de fiscalizar os trabalhos dos Cardeais escrutinadores. Para cada um dos três sorteios utilizam-se tiras de papel que são depositadas nos três vasos de vidro que, como referido, se encontram sobre a mesa situada junto do altar-mor da Capela Sistina.

As votações realizam-se em sessões de manhã e à tarde, duas em cada sessão, com exceção do primeiro dia onde se realiza apenas uma votação.

Chegada a hora da votação, cada Cardeal pega num boletim, de papel branco e forma retangular, que tem escrito na parte superior ''Eligo in summum pontificem'' (Elejo como Sumo Pontífice), com espaço para escrever o nome escolhido. Exige-se caligrafia clara e em letras maiúsculas, mas impessoais. O voto deve ser dobrado ao meio, e, com este apertado entre as mãos, recolhe-se em oração silenciosa: "Chamo como testemunho Jesus Cristo, o Senhor, que seja meu juiz, que o meu voto seja dado àquele que perante Deus considero dever ser eleito".

Votam primeiramente os Cardeais mais idosos. Um a um, os Cardeais dirigem-se para a mesa junto ao altar-mor, depositam o seu voto na bandeja de prata, e depois levantam-na até a altura da boca do primeiro vaso de vidro. Inclinam a bandeja e o voto cai dentro do vaso. Acabada a votação, o primeiro Cardeal escrutinador agarra no vaso de vidro e leva-o para a mesa de escrutínio. Uma vez aí, agita-o energicamente, para que os votos fiquem bem misturados. Logo a seguir, deita os votos no segundo vaso de vidro. Um a um, conta-os em voz alta, como mandam as normas canónicas, para que todos ouçam distintamente e sem qualquer dúvida (caso os votos contados não correspondam ao total de Cardeais eleitores, serão queimados e passar-se-á a segunda votação).

Assim, o primeiro escrutinador pega no vaso de vidro e tira um voto. Desdobra-o e anota numa folha de papel o nome do candidato a Papa que dele consta. Passa o voto ao segundo escrutinador, que procede de igual modo, entregando o voto ao terceiro escrutinador. Em voz alta e de maneira inteligível, como manda o eligendo, este lê cada nome votado. A operação repete-se até que todos os votos estejam escrutinados (contados e anunciados).

Após todos os votos estarem escrutinados, o terceiro escrutinador fura e cose cada boletim de voto com agulha e linha. Com diz o eligendo, a agulha tem que perfurar a palavra latina eligio (elejo) impressa no voto. Quando todos os votos estiverem cosidos, mete-os no terceiro vaso de vidro. Aqui chegados, cabe a cada um dos três escrutinadores somar os votos constantes do papel em que os foi anotando.

Chega a vez dos Cardeais revisores. Dirigem-se à mesa de escrutínio e, cada um por seu lado, contam os votos cosidos à linha e conferem o número total de votos com o registro feito por cada escrutinador. Devem cumprir a sua tarefa exata e fielmente, como diz o eligendo.

A votação, se tal for necessário, pode repetir-se até sete vezes por períodos de três dias. No caso de três dias sem resultados, suspendem-se os escrutínios durante o máximo de um dia, com o fim de criar uma pausa para oração e livre colóquio entre os Cardeais eleitores.

Anúncio dos resultados

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Fumaça preta saindo da chaminé do fogão da Capela Sistina.

As "fumatas", ou seja, o fumo que sai de uma chaminé instalada numa estufa do tipo salamandra na Capela Sistina, são, pela sua cor, o sinal dado ao exterior de um processo conclusivo ou não conclusivo. Se o escrutínio não for concludente, isto é, se o nome de um candidato não somar dois terços dos votos, volta tudo à primeira forma. O Camerlengo pede aos eleitores as notas pessoais que porventura tomaram durante a eleição. Tais notas, juntamente com a totalidade dos votos, são metidas numa caixa onde já se encontram as tiras de papel respeitantes ao sorteio dos Cardeais escrutinadores, infirmarii e revisores. A caixa é conduzida para o fogão contíguo à Capela Sistina, onde tudo é queimado.

Desde o conclave de 2005 que há um novo sistema para a fumata que permite distinguir bem a fumaça branca, que indica a eleição do pontífice, da fumaça preta, que indica que o processo ainda não convergiu num nome: utiliza-se um aparelho auxiliar com fumígenos além da estufa tradicional onde são queimados os boletins de voto. Este aparelho está instalado ao lado da estufa, e tem um compartimento onde são colocadas pastilhas que contém produtos químicos com diferentes composições. É acendido por meios eletrónicos e permite fazer fumo durante alguns minutos, em simultâneo com a queima de papéis na salamandra. Para conseguir a cor preta, a composição química dos fumígenos é perclorato de potássio, antraceno e enxofre, enquanto para a fumaça branca são usados clorato de potássio, lactose e colofónia, esta última chamada também peixe de Castela, uma resina natural de cor âmbar extraída das coníferas. Antigamente, para produzir a cor negra usava-se o ‘nehorumo’ ou o breu, e para a branca, palha molhada. As chaminés da estufa e do aparelho auxiliar se unem num único conduto, feito de bronze, que do interior da Capela Sistina desemboca na cobertura do edifício. Para melhorar as chaminés são aquecidas com uma resistência elétrica, havendo ainda um ventilador de reserva.[10]

Pós-votação concludente

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Uma vez realizada canonicamente a eleição do novo Papa, o último dos Cardeais Diáconos chama dois Cardeais: o Secretário do Colégio dos Cardeais e o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias. Então, o Cardeal Diácono, em nome de todo o Colégio de eleitores, pede o consentimento do Cardeal que foi eleito Papa com as seguintes palavras:

-Acceptasne electionem de te canonice factam in Suumum Pontificem? Aceitas a tua eleição canónica como Sumo Pontífice?
- Aceito em nome do Senhor (o Cardeal pode rejeitar e volta-se a fazer uma nova votação).

O Decano volta a inquirir:

- Quo nomine vis vocare? Com qual nome queres ser chamado?

O novo Papa diz o nome que deseja adotar. A seguir, recebe o 'ato de obediência' por parte de todos os Cardeais. Um a um, comparecem diante dele de pé.

Fumaça branca saindo da chaminé do fogão da Capela Sistina.

A caixa que contém os votos, os apontamentos dos Cardeais e as tiras do sorteio dos escrutinadores é levada a queimar dentro do fogão da Capela Sistina, sem palha molhada. Sai fumo branco, sinal de que foi eleito um novo Papa. Pouco depois, o Cardeal Protodiácono dirige-se à varanda da Basílica de São Pedro anunciar o resultado:

Annuntio vobis gaudium magnum:
Habemus Papam!
Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum,
Dominum [primeiro nome],
Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem [sobrenome],
qui sibi nomen imposuit [nome papal].

"Anuncio-vos com grande alegria:
Temos Papa!
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor,
Senhor [primeiro nome],
Cardeal da Igreja Católica Romana [sobrenome],
que escolheu para si o nome de [nome papal]."

Mais tarde, o Papa surge à varanda central da Basílica de São Pedro. O seu primeiro gesto, previsto em ritual, é a bênção Urbi et Orbi, dirigida à cidade de Roma e ao Mundo. Porém, desde a eleição do Papa João Paulo II, o recém-eleito Sumo Pontífice dirige-se ao povo com um discurso precedente à bendição.

Conclave Datas Duração Cardeais Eleito Papa Local
1061 1 dia 6 Bispo Anselmo de Baggio, Bispo de Luca Alexandre II San Pietro in Vincoli (Roma)
1073 1 dia 2 Hildebrand of Sovana Gregório VII San Pietro in Vincoli (Roma)
1086 16 Desiderius Papa Vítor III Santa Lucia in Septisolio (Roma)
1088 8 Odon de Lagery Urbano II SS. Pietro e Cesareo (Terracina)
1099 17 Raniero di Bleda Pascoal II Basílica de São Clemente (Roma)
1118 36 Giovanni Coniulo Gelásio II Monastério de Bentoine em Palatino (Roma)
1119 10 Guy de Bourgogne Calisto II Abadia de Cluny (França)
1124 6 dias 43 Lamberto Scannabecchi Honório II San Pancrazio (Roma)
1130 37 Gregorio Papareschi Inocêncio II SS. Andrea e Gregorio in clivo scauri (Roma)
1143 23 Guido di Castello Celestino II Arquibasílica de São João de Latrão (Roma)
1144 36 Gherardo Caccianemici Lúcio II (Roma)
1145 34 Bernardo Pignatelli Eugénio III San Cesareo in Palatio (Roma)
1153 30 Corrado Demetri della Suburra Anastásio IV (Roma)
1154 25 Nicholas Breakspear Adriano IV Antiga Basílica de São Pedro (Roma)
1159 4 dias 30 Rolando of Siena Alexandre III Antiga Basílica de São Pedro (Roma)
1181 1 dia 19 Ubaldo Allucingoli Lúcio III (Roma)
1185 18 Uberto Crivelli Urbano III (Verona)
1187 I 13 Alberto di Morra Gregório VIII (Ferrara)
1187 II 9 Paolo Scolari Clemente III (Pisa)
1191 23 Giacinto Bobone Celestino III (Roma)
1198 1 dia 21 Lotario dei Conti di Segni Inocêncio III Santa Lucia in Septisolio (Roma)
1216 1 dia 17 Cencio Savelli Honório III Palazzo delle Canoniche (Perúgia)
1227 1 dia 15 Ugolino dei Conti Gregório IX Septizodium, Roma
1241 35 dias 10 Goffredo Castiglioni Celestino IV Septasolium, Roma
1243 41 dias 9 Sinibaldo Fieschi Inocêncio IV Catedral de Anagni
1254 2 dias 10 Rinaldo dei Conti Alexandre IV (Nápoles)
1261 94 dias 8 Jacques Pantaléon Urbano IV Catedral de Viterbo
1264–1265 114 dias 19 Gui Foucois Clemente IV Palácio de Canoniche (Perúgia)
1268–1271* 29/11-01/09 2 anos e 277 dias 20 Arquidiácono Teobaldo Visconti, O.Cist. Beato Gregório X
1276 I 20/01-21/01 2 dias 13 Pedro de Tarantasia, O.P. Santo Inocêncio V
1276 II 02/07-11/07 10 dias 13 Ottobono Fieschi Adriano V
1276 III* 19/08-20/09 33 dias 11 Pedro Hispano João XXI
1277* 30/05-25/11 180 dias 7 Giovanni Gaetano Orsini, O.S.B. Nicolau III
1280–1281* 22/09-22/02 154 dias 13 Simão de Brion Martinho IV
1285* 29/03-02/04 5 dias 15 Giacomo Savelli Honório IV
1287–1288* 04/04-22/02 325 dias 16 Girolamo Masei de Ascoli, O.F.M. Nicolau IV
1292–1294* 05/04/1292-05/07/1294 2 anos e 63 dias 12 Pietro Angelerio da Morrone, O.S.B. São Celestino V
1294 23/12-24/12 2 dias 22 Bento Gaetani Bonifácio VIII
1303 21/10-22/10 2 dias 18 Nicolau Boccasini, O.P. Beato Bento XI
1304–1305 01/07-05/06 340 dias 15 Bertrand de Got Clemente V
1314-1316 01/05-07/09 2 anos e 130 dias 23 Jacques Duèse João XXII
1334 13/12-22/12 10 dias 24 Jacques Fournier, O.Cist. Bento XII
1342 05/05-07/05 3 dias 17 Pierre Roger de Beaufort, O.S.B. Clemente VI
1352 16/12-18/12 3 dias 25 Etienne Aubert Inocêncio VI
1362 22/12-28/12 7 dias 20 Guillaume de Grimoard, O.S.B. Santo Urbano V
1370 29/09-30/12 93 dias 18 Pedro Rogerii Gregório XI
1378 07/04-08/04 2 dias 16 Bartolomeo Prignano Urbano VI
1389 25/10-02/11 9 dias 13 Pietro Tomacelli Bonifácio IX
1404 12/10-17/10 6 dias 9 Cosma de Migliorati Inocêncio VII
1406 18/11-30/11 13 dias 14 Angelo Correr Gregório XII
1417 08/11-11/11 4 dias 23 Odo Colonna Martinho V
1431 02/03-03/03 29 dias 14 Gabriel Condulmer, O.S.A. Eugênio IV
1447 04/03-06/03 3 dias 18 Tomaso Parentucelli, O.P. Nicolau V
1455 04/04-08/04 5 dias 15 Alfonso de Bórgia Calixto III
1458 16/08-19/08 4 dias 18 Enea Silvio de Piccolomini Pio II
1464 27/08-30/08 4 dias 19 Pietro Barbo Paulo II
1471 06/08/-09/08 4 dias 18 Francesco della Rovere, O.F.M. Sixto IV
1484 26/08-29/08 4 dias 25 Giovanni Battista Cybo Inocêncio VIII
1492 06/08-10/08 5 dias 23 Rodrigo Bórgia Alexandre VI Capela Sistina, Vaticano
1503 I 16/08-16/09 32 dias 37 Francesco Todeschini Piccolomini Pio III Capela Sistina, Vaticano
1503 II 31/10-01/11 2 dias 38 Giuliano della Rovere, O.F.M. Júlio II Capela Sistina, Vaticano
1513 04/03-19/03 16 dias 25 Giovanni di Lorenzo de Médici Leão X Capela Nicolina, Vaticano
1521-1522 27/12-09/01 14 dias 39 Adriano Floriszoon Boeyens Adriano VI Capela Sistina, Vaticano
1523 01/10-19/11 50 dias 39 Giulio di Giuliano de Médici Clemente VII Capela Sistina, Vaticano
1534 11/10-13/10 3 dias 33 Alessandro Farnese Paulo III Capela Sistina, Vaticano
1549-1550 25/11-07/02 75 dias 51 Giovanni Maria Ciocchi Del Monte Júlio III Capela Paulina, Vaticano
1555 I 05/04-07/04 3 dias 55 Marcelo Cervini Marcelo II Capela Sistina, Vaticano
1555 II 15/05-23/05 9 dias 56 Gian Petro Carafa, C.R. Paulo IV Capela Sistina, Vaticano
1559 05/09-26/12 113 dias 44 Giovanni Angelo Médici Pio IV Capela Paulina, Vaticano
1565-1566 20/12-07/01 19 dias 52 Michele Ghislieri, O.P. São Pio V Capela Sistina, Vaticano
1572 12/05-13/05 2 dias 53 Ugo Boncompagni Gregório XIII Capela Sistina, Vaticano
1585 21/04-24/04 4 dias 42 Felice Peretti, O.F.M.Conv. Sixto V Capela Sistina, Vaticano
1590 I 07/09-15/09 9 dias 53 Giovanni Battista Castagna Urbano VII Capela Sistina, Vaticano
1590 II 08/10-05/12 59 dias 56 Niccolò Sfrondrati Gregório XIV Capela Sistina, Vaticano
1591 27/10-03/11 8 dias 56 Giovanni Antonio Facchinetti Inocêncio IX Capela Sistina, Vaticano
1592 10/01-30/01 21 dias 54 Ippolito Aldobrandini Clemente VIII Capela Sistina, Vaticano
1605 I 14/0301/04 19 dias 60 Alessandro Ottaviano de' Médici Leão XI Capela Sistina, Vaticano
1605 II 08/0516/05 9 dias 61 Camilo Borghese Paulo V Capela Sistina, Vaticano
1621 08/0209/02 2 dias 51 Alessandro Ludovici Gregório XV Capela Sistina, Vaticano
1623 19/0706/08 19 dias 55 Maffeo Barberini Urbano VIII Capela Sistina, Vaticano
1644 09/0815/09 38 dias 57 Giovanni Battista Pamphilj Inocêncio X Capela Sistina, Vaticano
1655 18/0107/04 80 dias 66 Fabio Chigi Alexandre VII Capela Sistina, Vaticano
1667 02/0620/06 19 dias 64 Guilio Rospigliosi Clemente IX Capela Sistina, Vaticano
1669-1670 20/1229/04 131 dias 66 Emilio Altieri Clemente X Capela Sistina, Vaticano
1676 02/0821/09 51 dias 63 Benedetto Odescalchi Beato Inocêncio XI Capela Sistina, Vaticano
1689 23/0806/10 45 dias 51 Pietro Voti Ottoboni Alexandre VIII Capela Sistina, Vaticano
1691 12/0221/07 160 dias 65 Antonio Pignatelli Inocêncio XII Capela Sistina, Vaticano
1700 09/1023/11 46 dias 57 Giovanni Francesco Albani Clemente XI Capela Sistina, Vaticano
1721 31/0308/05 39 dias 56 Michelangelo dei Conti Inocêncio XIII Capela Sistina, Vaticano
1724 20/0329/05 71 dias 54 Pietro Francesco Orsini, O.P. Bento XIII Capela Sistina, Vaticano
1730 05/0307/04 34 dias 55 Lorenzo Corsini Clemente XII Capela Sistina, Vaticano
1740 18/0217/08 182 dias 52 Prospero Lorenzo Lambertini Bento XIV Capela Sistina, Vaticano
1758 15/05-06/07 53 dias 45 Carlo della Torre Rezzonico Clemente XIII Capela Sistina, Vaticano
1769 15/0219/05 94 dias 44 Giovanni Ganganelli, O.F.M.Conv. Clemente XIV Capela Sistina, Vaticano
1774-1775 05/1015/02 134 dias 44 Giovanni Angelo Brachi Pio VI Capela Sistina, Vaticano
1799-1800 01/1214/03 104 dias 34 Luigi Barnaba Chiaramonti, O.S.B. Pio VII Mosteiro de São Jorge, Veneza
1823 02/0928/09 27 dias 49 Annibale Sermattei della Genga Leão XII Palácio do Quirinal, Roma
1829 24/0231/03 36 dias 50 Francesco Severino Castiglione Pio VIII Palácio do Quirinal, Roma
1830–1831 14/1202/02 51 dias 45 Bartolomeu Albert Cappellari, O.S.B. Cam. Gregório XVI Palácio do Quirinal, Roma
1846 14/0616/06 3 dias 50 Giovanni Maria Mastai-Ferretti, O.F.S., A.S.C. Beato Pio IX Palácio do Quirinal, Roma
1878 18/0220/02 3 dias 61 Gioacchino Luigi Pecci, O.F.S. Leão XIII Capela Sistina, Vaticano
1903 31/0704/08 5 dias 62 Giuseppe Melchiorre Sarto, O.F.S. São Pio X Capela Sistina, Vaticano
1914 31/0803/09 4 dias 57 Giacomo della Chiesa, O.F.S. Bento XV Capela Sistina, Vaticano
1922 02/0206/02 5 dias 53 Achille Ratti, O.F.S. Pio XI Capela Sistina, Vaticano
1939 01/0302/03 2 dias 62 Eugenio Pacelli, O.P. Pio XII Capela Sistina, Vaticano
1958 25/1028/10 4 dias 51 Angelo Roncalli, O.F.S. São João XXIII Capela Sistina, Vaticano
1963 19/0621/06 3 dias 80 Giovanni Battista Montini São Paulo VI Capela Sistina, Vaticano
1978 I 25/0826/08 2 dias 111 Albino Luciani Beato João Paulo I Capela Sistina, Vaticano
1978 II 14/1016/10 3 dias 111 Karol Wojtyla São João Paulo II Capela Sistina, Vaticano
2005 18/0419/04 2 dias 115 Joseph Ratzinger Bento XVI Capela Sistina, Vaticano
2013 12/0313/03 2 dias 115 Jorge Mario Bergoglio, S.J. Francisco Capela Sistina, Vaticano
2025 07/0508/05 2 dias 133 Robert Francis Prevost, O. S. A. Leão XIV Capela Sistina, Vaticano
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Referências

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  2.  Goyau, Georges (1913). «Second Council of Lyons (1274)». In: Herbermann, Charles. Enciclopédia Católica (em inglês). Nova Iorque: Robert Appleton Company 
  3. a b John Paul II (22 de fevereiro de 1996). Universi Dominici gregis Arquivado em 2007-05-06 no Wayback Machine. Constituições Apostólicas. Vatican City: Vatican Publishing House.
  4. Baumgartner 2003, p. 4.
  5.  Weber, N. A. (1913). «Pope Nicholas II». In: Herbermann, Charles. Enciclopédia Católica (em inglês). Nova Iorque: Robert Appleton Company 
  6. "Pope Issues Conclave Motu Proprio" Arquivado em 2017-12-13 no Wayback Machine National Catholic Register. 25 de fevereiro de 2013.
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  8. "Pope alters voting for successor" Arquivado em 2007-09-14 no Wayback Machine. BBC News. 26 de junho de 2007.
  9. «Quem é o novo Papa? Conheça Robert Francis Prevost, o Leão XIV, sucessor de Francisco». G1. 8 de maio de 2025. Consultado em 8 de maio de 2025 
  10. zenit.org (13 de março de 2013). «Duas votações no período da manhã e duas à tarde. O novo sistema de fumaça e os fumígenos utilizados». Consultado em 14 de março de 2013 
  • Edição especial do Correio da Manhã - "Os Papas - De São Pedro a João Paulo II" - Fascículo I, "Como se elege o Santo Padre", páginas 12 a 19, ano 2005.
  • PIAZZONI, Ambrogio. Storia delle elezioni pontificie, Casale Monferrato, 2005.
  • RANGEL, Cláudio. O Coração de Rosa. Niterói, Editora Itapuca, 2022.
  • SIGNORELLI, Giuseppe Papi i Conclavi a Viterbo. 1907

Ligações externas

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